Os Camelódromos: A Organização Espacial do Comércio Informal


  Vimos na última postagem que os comerciantes informais apropriam-se do espaço público urbano para estabelecerem sua prática, única forma encontrada por eles para conseguir se inserir no meio de produção, ficando assim as margens do Estado. Porém o Governo tenta estabelecer o mínimo de organização para esse tipo de prática, criando assim camelódromos, locais onde os ambulantes encontram-se reunidos , mais ou menos organizados. O estudo “O comércio e serviços ambulantes: uma discussão”  também trata do assunto :


       "A partir da expansão dos vendedores ambulantes, há necessidade de se criar um estabelecimento para que estes possam se organizar espacialmente, como os camelódromos ou shoppings populares conceituados por Montessoro (2006) como centro comercial dos ambulantes. Ainda de acordo com essa autora, pelo fato desses comerciantes ficarem nas vias públicas (praças e calçadas), sempre foram vistos como uma anomalia do ponto de vista do planejamento. O que ocorre com esse tipo de trabalhador, é que as suas condições de alimentação e transporte são precárias, mas ao analisar-se a respectiva dinâmica de trabalho, constata-se que não estão desestruturados, já que sempre apresentam um ponto para as vendas, ainda que não fixo, bem como as mercadorias a serem comercializadas."



                       Camelódromo do Brás em São Paulo, exemplo de uma
                                tentativa de organizar o comércio informal

   "Ao observar-se a dinâmica das cidades de médio porte e também das metrópoles, percebe-se que os camelódromos, construídos para oferecer um lugar legalizado aos ambulantes, localizam-se próximos aos terminais de transporte urbano. Essa localização é estratégica, uma vez que essa é uma área de grande circulação de pessoas de renda baixa, e que estarão sempre atraídas pelas mercadorias com preços populares, vendidas nos camelódromos."

A localização do comércio informal dentro do espaço urbano



      
  Hoje iremos analisar a localização do comércio informal no espaço urbano, no estudo “O comércio e serviços ambulantes: uma discussão” da Universidade Federal de Uberlândia feito por estudantes da Pós Graduação em Geografia, é discutida as estratégias de localização utilizadas pelos camêlos e ambulantes:

Por ser atividade econômica característica de rua, a localização do comércio e serviços ambulantes depende exclusivamente do espaço público, como os logradouros e as vias."

"Os espaços públicos com enfoque para as praças, calçadas e ruas, são os ambientes mais utilizados para localização dos ambulantes/camelôs, uma vez que estes espaços estão localizados em partes privilegiadas da área central e possibilitam a circulação de pessoas e, consequentemente, o comércio."

"Os espaços públicos em questão passam a ter valor de mercadoria, pois os mercadores ambulantes dele se apropriam privadamente, por não terem nenhum custo de localização, não pagarem aluguel e nem impostos, utilizando-o assim, para comércio informal e obtenção de lucros. A rua, enquanto um espaço público assume papel multifuncional, pois de acordo com os diferentes períodos do dia, apresenta funções diferenciadas e públicos variados."



  •    Imagem mostrando a apropriação do Espaço Urbano por comerciantes informais    
      
    Como verificado no estudo os trabalhadores informais apropriam-se  do espaço público  para realizarem suas atividades econômicas, buscando sempre os locais mais movimentados e mais centrais da cidade para assim poderem atingir maiores e diversificados públicos, obtendo assim maiores lucros. O curioso que essa apropriação do espaço público ocorre sem nenhum gasto pro trabalhador, que não paga aluguel nem impostos, maximizando assim os lucros de sua atividade mercantil. Porém esse domínio do espaço pode gerar problemas para os pedestres que passam pelo local ou ainda aqueles que consideram os comerciantes uma poluição visual nos centros urbanos.

As Mercadorias do Comércio Informal



Bom, começaremos essa postagem fazendo uma recapitulação de tudo que falamos até agora em nosso blog, começamos traçando uma linha iniciada na percepção imediata dos elementos : o homem e a natureza, e posteriormente sua ligação que fazem a economia. Analisamos portanto a economia, nosso objeto de estudo primordial, tratamos do espaço econômico, como o homem  produz seus produtos a partir da transformação da natureza e até a existência de mercadorias. 
Colocamos em nossa discussão um fator importantíssimo do estado, até qual ponto ele influi na economia, qual o seu papel na construção das relações econômicas estabelecidas entre os homens e qual a sua verdadeira eficácia nesse controle econômico. A partir do conflito que surge das desigualdades sociais no modo de produção capitalista atual, justificamos a criação do comércio informal, visto como forma de inserção da população, esquecida pelo estado, no esquema econômico. 
Enfim chegamos no comércio informal conceituamos-o de maneira clara, agora começaremos enfim tratar dele, responderemos questões como : o que eles comercializam?, para quem ?, onde?, de que maneira esse comércio funciona? Quais caminhos os produtos passaram até chegar nas mãos dos comerciantes ?. Assim buscaremos fazer uma análise geográfica da informalidade do comércio.

As mercadorias e serviços oferecidos pelos comerciantes informais variam de acordo com o público alvo e com o local ao qual o comerciante vai estabelecer sua prática, os produtos geralmente são relativos a necessidades primárias da população como observado por Gevson Silva Andrade e Edvânia Torres Aguiar Gomes da Universidade Federal de Pernambuco em seu estudo sobre o comécio informal na cidade do Recife :

Paira sobretudo a hipótese de que esses mercados de âmbito local, tais como mercados de vendas de água, gás, padarias, oficinas de consertos de bicicleta, pequenas oficinas de reparos de serviços eletrônicos e eletrodomésticos, lanchonetes e carros de vendas de alimentos, além de fiteiros, bombonieres, comercialização de frutas e refrigerantes nos semáforos de trânsito estão a serviço de uma comunidade mais precisamente definida como de espectro local ou, mesmo que de passantes, relativas a necessidades primárias da população (saciamento de sede, ou de lanches).”

Ou também de acordo com o publico alvo, por exemplo o que se oferece em sinais de transito:


“Outrossim, observa-se que para aqueles que circulam em automóveis particulares, há uma crescente oferta diversificada de recursos associados ao uso de celular, com a comercialização de acessórios das mais diversas especificidades, bem como a oferta de bens supérfluos utilizados como regalos (presentes), tais como ramalhetes, bonecos de pelúcia, perfumes, chaveiros, isqueiros, camisetas de clubes, dentre outros objetos.”


O Novo se confunde com o Velho nesses espaços urbanos de comércio informal :


“Há um jogo de complementaridade que se estabelece e se expande a cada dia nessas vias de circulação. O consumo de frutas de época convive com produtos importados do Paraguai ou da China num mosaico de consumo que se assemelha ao registrado historicamente na cidade do Recife.”


“O hábito de alimentar-se em vias públicas, quer seja com beijus, tapiocas, peixes e anus (caça existente), e rapadura, foi substituído por hot-dogs, água engarrafada, refrigerantes. Assim como os espelhos e demais produtos importados deram lugar aos acessórios importados.”

O Desemprego e o Comércio Informal

 Não é de se assustar ao ouvir falar das desigualdades do meio de produção capitalista, elas são claramente visíveis, seja entre as diversas nações do mundo ou dentro do próprio Brasil, essas desigualdades nos mostram como o sistema capitalista vigente na sociedade atual é ineficiente e incapaz. Mas nosso interesse em analisar as desigualdades socioeconômicas do meio de produção é verificar e assim justificar a existência do mercado informal, que surge da necessidade daqueles que não se vêem beneficiados pelo sistema ou não conseguem ingressar nele, vendo como única opção de subsistência a prática do comércio informal.

O Vídeo abaixo mostra como o desemprego é o principal fator que motiva as pessoas a praticarem o comércio informal: 

Desemprego levam mulheres ao mercado informal



         A crescente automatização do processo produtivo, redução dos custos de mão-deobra e a flexibilização da economia acarretou o aumento do desemprego no setor secundário. O setor terciário procura absorver parte desse contingente de desempregados.

       O setor secundário, que foi talvez o grande empregador de mão-de-obra durante a maior parte do século XX, encontra-se atualmente num processo de eliminação de força de trabalho humana, num ritmo até mesmo mais acelerado que o setor primário.

Todo país bastante industrializado possui, ou chegou a possuir, um mínimo de 30% de sua população economicamente ativa no setor secundário. Todavia, a maior parte das economias já industrializadas — especialmente os líderes da Terceira Revolução Industrial: Estados Unidos, Japão, Alemanha e outros — vem apresentando, desde os anos 1970, uma rápida diminuição do número de operários. O único setor em que atualmente há um sensível crescimento de empregos e de novas atividades é o terciário, que, estima-se, será o grande empregador, pois os outros dois setores irão ocupar juntos, no máximo, 20% da força de trabalho nos países industrializados. Em virtude da mecanização do campo e da urbanização, a percentagem da população ocupada no setor primário tende a diminuir no mundo inteiro, até atingir uma média de 5% a 6% da população ativa.



          Automação do setor secundário gerou desemprego nesse setor

Novos Empregos e o Desemprego no Setor Terciário

         Pelo fato de muitas de suas atividades exigirem aptidões típicas dos seres humanos e difíceis de serem mecanizadas -tais como criatividade, liderança, iniciativa, resolução de situações imprevistas, inteligência emocional, etc. -, uma parte significativa do setor terciário não tende a esvaziar-se com a automação e robotização, tal como vem ocorrendo com os outros dois setores. Pelo contrário, graças aos avanços recentes na globalização e na revolução técnico-científica, uma série de novas atividades ou empregos está surgindo no setor terciário: novos tipos de comércio, expansão do turismo, da informática, das telecomunicações, das pesquisas científicas e tecnológicas, etc.

O Estado e a Economia


      Hoje iremos continuar nosso raciocínio sobre a geografia do comércio informal, porém antes de tratarmos do comercio informal fizemos uma introdução, explicando como funciona a sociedade , que produz e comercializa seus produtos. Agora vamos pensar nos conceitos de formalidade e informalidade na atividade econômica, o formal seria o que o Estado regulariza, aquele que paga impostos e que está de acordo com as leis, e o informal o contrário disto, ou seja, o que estaria as margens do Estado, fora dele. É daí que surge o comércio informal dessa não existência do Estado controlando a atividade econômica, ou seja que não paga impostos e não está de acordo com as leis trabalhistas, regularizado pelo estado. Portanto tentaremos mostrar para vocês como funciona a relação do Estado com a Economia, ao longo do tempo e atualmente.

         Vejamos esse esquema que mostra de maneira simplificada a intervenção do estado na economia e mostra as principais políticas econômicas existentes.




Retirado do site : http://uni9adm.ning.com/


           O Estado portanto tem como principais objetivos fiscalizar e regular a economia,criando leis, decretos, regulamentos, realizando mediadas governamentais e ajustes econômicos. Tudo isso com objetivo de tentar estabilizar a economia e visar uma redistribuição mais igualitária das riquezas entre as diversas classes sociais da sociedade. Ao longo do história nas diferentes nações existentes, a intervenção que o Estado tinha na economia foi mudando em nível, indo do liberalismo completo à uma total intervenção, assim como as funções que o estado assumia na economia. Atualmente o Estado assume um caráter apenas de regulador e fiscalizador, deixando a economia funcionar mais livremente.

         A OIT considera trabalhadores informais aqueles que exercem atividades econômicas à margem da lei e desprovidas de proteção ou regulamentação pública, e cuja produção acontece em pequena escala. Para a OIT, o trabalho informal também se caracteriza pela ausência das relações contratuais. Ou seja a economia informal seria aquela que estaria as margens do estado, e os comerciantes informais, nosso foco, inclusive pois trabalham sem qualquer regulamentação.

Conceitos do Comércio Informal


 Bom eu já tinha feito um post antes Conheça o comércio informal, que foi mais descontraído, aqui serei mais objetivo e específico nas informações e conceitos a respeito do Comércio Informal.


A reestruturação urbana que envolve a cidade nos dias atuais vista sob o prisma da centralidade,que é revelada pela área central, apresenta novas formas e funções que conferem valores diferenciados à paisagem urbana, principalmente no que se refere ao uso e ocupação do solo. A modificação da paisagem, na área central, corrobora com um processo de reprodução sócio - espacial que vem ocorrendo desde as últimas décadas do século XX, uma vez que o espaço urbano nada mais é do que a materialização de ações humanas e está em constante transformação, estabelecendo relações interdependentes e resultando num produto social urbano. A complexidade da área central se torna mais visível a partir do momento em que analisamos a sua configuração, na qual o núcleo central está inserido, revelando através de suas formas espaciais a apropriação que os espaços públicos vêm sofrendo por ambulantes e camelôs.A informalidade da economia será analisada a partir das atividades do comércio e serviços nos espaços públicos da Área Central, privilegiando, sobretudo, os vendedores ambulantes ou “camelôs”, como são popularmente conhecidos. De forma específica, buscamos compreender a expansão do comércio informal, a estratégia de localização e identificar as categorias funcionais dessa atividade econômica da referida área.




A reportagem da Tv Imigrantes mostra a variedade de produtos e mostra a ação deles no feriado do dia de Finados.

Ao analisar a formalidade-informalidade do comércio varejista, o estudo de Santos (1979), constituiu-se em referência básica para a compreensão da estrutura comercial das cidades do Terceiro Mundo. A sua principal contribuição resulta na caracterização da economia urbana em dois sistemas: o “circuito superior” e o “circuito inferior”. O autor argumenta que os dois circuitos estão articulados entre si. Porém a diferença fundamental entre as atividades desses dois sistemas está nas modalidades de capital, tecnologia e organização. Contudo, devemos notar que há uma dependência do circuito inferior em relação ao superior.Independente de ser uma alternativa de ganho para os desempregados ou uma saída para pagar menos impostos (SANTOS e REZENDE, 2003), o certo é que a expansão da economia informal nas últimas décadas nas grandes e médias cidades, com destaque para a área central, têm despertado a atenção, tanto dos estudiosos dessa temática, quanto das autoridades públicas e dos empresários que atuam nesse setor da cidade.O estudo de Melo e Telles (2000) revela que o avanço dessas atividades não se apresenta como um fenômeno transitório. No caso brasileiro, deve ser destacado o aumento expressivo do comércio ambulante no interior da atividade comercial. De acordo com os autores, 68% dos postos de trabalho no âmbito comercial são oriundos do comércio varejista e atacadista, mas 21% derivam-se da categoria ambulante, tendência que se manifestou mais fortemente nos anos 90 em todo o país.Em Manaus, segunda metrópole da Região norte, houve o reconhecimento do comércio de rua com o credenciamento dos camelôs na gestão do prefeito Amazonico Mendes em 1993. Segundo dados da Secretaria Municipal de Abastecimento de Feiras e Mercados (SEMAF), existem 2.342 camelôs no centro da cidade e 935 nos bairros. Além desses, é preciso considerar aqueles que possuem autorização provisória e um grande número de outros ambulantes sem credenciamento.Nas cidades médias, esse fenômeno ganha expressão com o aumento populacional, tanto de naturais quanto de migrantes e a defasagem na oferta de empregos para essa população em contínuo crescimento.Uberlândia exemplifica esta análise. Por ser a terceira maior cidade do Estado de Minas Gerais, as principais praças e ruas da sua área central estão tomadas por camelôs que comercializam diversos tipos de produtos.No entanto, há que considerar outros fatores que contribuem para o aumento do comércio informal, tais como a baixa qualificação do trabalhador, associada ao ciclo de vida e, por conseguinte a perda do emprego que faz com que esse desempregado encontre muitas dificuldades para retornar ao mercado de trabalho formal. Assim, esta pessoa vai desempenhar alguma atividade no comércio informal. Por outro lado, não podemos desprezar a falta de perspectivas econômicas em alguns setores da economia, em detrimento de uma possível melhor renda no comércio informal, de outra forma, para a complementaridade da renda familiar, principalmente dos aposentados, que deve ser considerada na reflexão desta complexa temática em questão.


Conheça o comércio informal

  Desde os tempos antigos o comércio informal pode ser visto ao longo da história, nos tempos bíblicos quando Jesus Cristo andava pelas ruas da cidade diversos comerciantes ganhavam sua vida vendendo produtos em barracas improvisadas, onde permaneciam pouco tempo, pois logo sairiam daquele lugar em busca de outra localidade para atender novos clientes.
 Nos dias de hoje o comércio informal tem sido uma saída para os desempregados, a falta de qualificação profissional que é um fato determinante hoje em dia é grande, fazendo muitos trabalhadores recorrerem a esse meio de vida no comércio informal. Muitas pessoas deixam suas cidades em busca de melhores condições de vida, e ao chegar no lugar desejado com a promessa de um bom emprego vê que tudo aquilo foi um simples sonho proporcionado por uma cidade grande que muitas pessoas tem, isso mesmo sendo muito cliché, ainda acontece hoje em dia com frequência e esses trabalhadores só vêem uma única solução, o comércio informal, vender produtos de péssima qualidade em uma barraca correndo diariamente o risco de assalto e ainda tendo que acordar muito cedo para montar as barracas e ter muita disposição para aguentar uma cansativa jornada de trabalho.


 Esse vídeo mostra o fluxo do comércio informal em uma rua de Salvador, junto da música nós podemos entender bem a vida desses comerciantes.